Faxineiro vende pipocas em jogos do Touro dos Canaviais para cuidar de animais abandonados: “já deixei de comprar comida para mim, para comprar ração”, diz

Faxineiro vende pipocas em jogos do Touro dos Canaviais para cuidar de animais abandonados: “já deixei de comprar comida para mim, para comprar ração”, diz
Maurício Rodrigues, faxineiro que vende pipocas durante jogos do Touro dos Canaviais, para cuidar de animais abandonados | Foto: Luciano André | Sertãozinho FC

16/03/2022

Conheça a história de Maurício Rodrigues, que vende pipocas na arquibancada do Estádio “Frederico Dalmaso” para cuidar de animais vítimas de maus-tratos e abandono

O faxineiro Maurício Rodrigues, de 54 anos, é um sertanezino apaixonado pelo Touro dos Canaviais (Sertãozinho Futebol Clube). A relação entre os dois está conectada por meio de um objetivo: ajudar os animais abandonados e vítimas de maus-tratos. “Deus me deu esse dom de cuidar dos animais, eu estou salvando vidas”, diz.

É da arquibancada que Maurício vende as pipocas e, simultaneamente, acompanha os jogos do seu time do coração.

“O time é uma benção pra mim, eu gosto do Touro e quando tem jogo eu junto a paixão pelo time com a oportunidade de ganhar meu dinheiro e comprar ração”, diz.

As vendas das pipocas já ocorrem há anos no Estádio “Frederico Dalmaso”, sendo um complemento de renda para contribuir na compra de ração, remédios e dos cuidados dos 12 animais que tem em sua casa, além de outros que ficam na estrada dos ranchos no distrito de Cruz das Posses.

Durante os jogos, a rotina do pipoqueiro é agitada; é ele mesmo quem prepara a pipoca.

“O carrinho de pipoca é meu, eu estouro o milho e encho as caixinhas. Na sequência, saio pela arquibancada vendendo. Quando acaba, eu volto para o meu carrinho e repito o processo novamente. Eu não tenho ajuda, faço tudo sozinho”, comenta.

Geralmente, por jogo, ele consegue vender uma média de R$ 250 a R$ 270 em pipocas. Ainda de acordo com Maurício, os gastos com ração, em média, são de aproximadamente R$ 800 por mês, além de outros custos, como veterinário e remédios para os animais.

História de luta e superação em prol dos animais

A missão de cuidar dos animais surgiu logo cedo, na juventude de Maurício, quando ele tinha 18 anos. “Eu sempre gostei de animais e sempre tive cachorros; eu não gostava de ver eles sofrendo na rua e sempre tive vontade de ajudar. Deus me deu esse dom de cuidar dos animais”, conta.

No início, ainda desempregado, ele comprava as carnes que sobravam dos restaurantes para dar de comer aos cachorros. “Quando eu comecei eu não tinha dinheiro para comprar ração; então, comprava 5 kg de carne e dava para os cachorros. Depois, consegui um emprego e passei a comprar ração”, comenta.

O compromisso com os animais não se resumiu à alimentação: o homem passou a levar os cachorros ao veterinário e realizar castrações. Com o alto custo, o jeito foi começar a fazer rifas.

Hoje em dia, para conseguir cuidar de todos os animais e estar presente, ao menos três vezes por semana, na estrada dos ranchos de Cruz das Posses, o pipoqueiro precisou adaptar a própria moto. Na garupa ele carrega uma caixa para transportar os animais que resgata.

A alegria de Maurício está em ver a melhora dos bichos; mas, durante o resgate, por muitas vezes, ele chora e diz que o coração aperta ao ver a situação.

“Já resgatei cachorros em estado grave, com perna quebrada, vítima de maus-tratos. Um outro teve que amputar a perna, pois quebrou e não andava mais... tem vários cachorros idosos e doentes que o pessoal não quer mais. Tudo isso fica muito caro”, diz.

A rotina de Maurício Rodrigues é longa; ele acorda por volta das 5h da manhã, todos os dias, para cuidar dos 12 animais que tem em sua casa. Em seguida, vai para o trabalho, onde fica até às 16h.

Após a jornada, retorna para casa, cuida dos seus animais e, três vezes por semana, leva ração para os animais abandonados.

Além disso, como pipoqueiro, está presente com seu carrinho todas as sextas-feiras, das 18h às 22h30, na praça da Cohab VI e na Praça dos Peixes, em Sertãozinho.
O processo de doação dos animais também não é fácil.

“Os cachorros que estão na minha casa, eu já coloquei pra doar, mas não consegui, ninguém quer; é difícil”, comenta. “Já teve vezes que eu deixei de comprar comida para minha casa e comprar ração para os cachorros. Já passei muita dificuldade. Eu chorava em ver a situação dos animais”, completa.

Ainda de acordo com Maurício Rodrigues, é quase impossível mensurar a quantidade de animais que ele já resgatou. Ele se lembra que foram muitos e não pretende parar enquanto viver.


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